terça-feira, 25 de abril de 2017

Celebrando Abril

Hoje, a nossa árvore veste-se de cravos, não deixando esquecer a Revolução que nos devolveu a liberdade. Lembramos, assim, que é preciso não deixar esmorecer a ...verdade, a liberdade, a justiça! Ficamos com o poema de Joaquim Salgado de Almeida, para ler e refletir.





Pinta-me Abril outra vez!!!
No tempo da “Outra Senhora”,
o Zé queria ser pintor.
Tinha pelo na venta
A sinistra criatura,
Mal cheirosa, bafienta.
Gostava da “dita dura”.
Por isso, estava sempre a tramar o Zé. (Não digo a outra palavra, pois bem feia ela é.)
E a dita dizia :- tu vais ser é lavrador,
ou então vais para o “cotão”…
agora artista, pensador, isso não!
E “a bem da Nação”, vais prà tropa,
vais ser carne pra canhão!
Era assim o mundo do tempo da “Outra Senhora”,
cinzento e opressor…
E o ZÉ queria ser Pintor!...
Até que um dia, era Abril,
justamente dos quartéis,
capitães, praças ,furriéis,
saíram pra rua,
e à opressão
disseram Não!
Foi de vela a “dita cuja”,
Foi-se o cheiro bafioso.
O sol sorriu pra todos,
Aroma de Primavera!
Ao Zé deram pincéis,
Deram tintas e uma tela.
- Pinta o País Novo,
e a alegria deste povo.
E o Zé pintou, cravos e mais cravos,
Bandeiras e mais bandeiras,
Tudo de um vermelho vivo, como a alegria do povo.
O único elemento branco,
era uma gaivota que,
voava, voava…
Ainda pintava o Zé, e já uns mirones diziam: - A pintura está muito forte, deve ser esbatida…
O Zé deu ouvidos aos opinantes, e adicionou branco ao vermelho, repintando a composição.
Foram-se os cravos e as bandeiras,
agora era tudo rosa, até as flores…
Da obra inicial, apenas a gaivota, transferida para o fundo da tela.
No seu ouvido direito alguém sussurrou : - com essa cor não vais a lado nenhum… enriquece a paleta…
E o Zé assim fez, acrescentou amarelo, a cor do ouro, e a mistura surtiu um laranja, que tomou conta da tela.
E da gaivota, nem vê-la…
- Refaz a pintura, diziam do outro lado…
E o Zé já estava a ficar baralhado.
Então alguém disse: - precisas é de aprender,
tira um curso de pintura,
há dinheiro para isso.
Inscreveu-se o Zé no curso,
pago pela “Grande Senhora”
com residência em Bruxelas.
Nas aulas nada aprendeu,
que o dinheiro para elas,
sumiu, desapareceu…
- Ó Zézinho, se queres pintar, vai por mim, que eu é que sei…
- Zézinho, não faças isso, mete-lhe azul , okei?!…
E o Zézinho cada vez mais baralhado
sentia-se pobre e angustiado.
Curiosamente, os opinadores
Tornavam-se em grandes senhores…
À s vozes mais solidárias,
Não dava ouvidos o Zé.
- Os Senhores do capital,
É que sabem como é.
E assim, num triste fado,
Só ouvia dois ou três,
Mexia e remexia,
Sempre a mesma porcaria.
De tanta mistura na obra,
ficou borrada a pintura.
As cores agora na tela,
mais parecem da ditadura.
- Pinta-me Abril outra vez
Com paixão e com afinco.
Não ponhas lá o “primeiro”,
Pinta-me o VINTE E CINCO!!!

                                                                                   J.A. Salgado Almeida

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